sábado, 4 de fevereiro de 2012

Análise Dos Sambas-Enredo Do Carnaval 2012 - Grupo Especial, Rio De Janeiro

A exemplo daquilo que aqui fizemos no ano passado, cá estamos para dar alguns pitacos sobre os sambas-enredo das agremiações que figuram no Grupo Especial do Rio de Janeiro. 2012 marca o início de uma Era no sambódromo onde teremos a inauguração de alguns novos setores (uma antiga fábrica foi demolida, possibilitando uma ampliação no número de espectadores). O blogueiro, empolgado que só, conseguiu adquirir ingressos para os desfiles de domingo e de segunda-feira. Setor 4, estamos chegando!

Nessa postagem, teremos alguns vídeos incorporados. Todos eles filmados por este que vos digita, capturados em diversos ensaios realizados nas últimas semanas. 

Abraços e ótimo carnaval a todos.

Escola: Beija-Flor
Enredo: São Luís: O Poema Encantado do Maranhão
Trecho: Tem magia em cada palmeira que brota em seu chão
Análise: Não é que o produto final tenha ficado bom ou ruim, a questão é que ficou repetitivo. Dá a impressão de que teremos pela frente mais um desfile nilopolitano nos moldes "macumba amazônica", bastante visto nas últimas décadas. Não fosse o grande talento de Neguinho, diria que o samba chega a ser fraco. Mas fraco é palavra proibida quando esse intérprete está ao microfone. Pode ser que funcione bem na avenida? Sim, claro. Mas, a julgar pura e simplesmente pela composição, diria que esse samba não desfilaria no sábado das campeãs.

Escola: Unidos da Tijuca
Enredo: O Dia em que Toda a Realeza Desembarcou na Avenida para Coroar o Rei Luiz do Sertão
Trecho: Numa serenata feliz vou cantar / No meu Pé de Serra festejo ao luar
Análise: A homenagem ao centenário de Luiz Gonzaga já carrega por si só um forte apelo emotivo. E a letra do samba tijucano consegue aumentar esse aspecto emocional, com versos muito bonitos que exaltam a "cultura nordestina". Percebi uma grande evolução no rendimento do samba do estúdio para a avenida - aliás, o canto da comunidade tijucana foi impressionante no ensaio técnico que presenciei. A escola do Borel tem tudo para, aliada ao talento de Paulo Barros e à garra de seus componentes, protagonizar um desfile inesquecível.

Escola: Mangueira
Enredo: “Vou Festejar! Sou Cacique, Sou Mangueira
Trecho: Não dá pra conter tamanha emoção / Cacique e Mangueira num só coração
Análise: São tantos versos belos e melodiosos que fica até difícil de ver por onde começar a elogiar a letra. Porém, sinto que ficou faltando algo no samba da Mangueira. Não sei se é muita exigência de minha parte (até porque ano passado achei a homenagem a Nélson Cavaquinho uma composição simplesmente maravilhosa), mas o fato é que tem algo na atual obra que "não encaixou". Particularmente, achei péssima a passagem "Sou imortal e vou viver / Agonizar não é morrer". Enfim, como a safra desse ano é muito boa, no meu entender o samba da Mangueira não aparece entre os melhores de 2012. Mas guardo boas expectativas para o canto da escola no desfile oficial, sobretudo levando-se em consideração a abusada (na melhor acepção do termo) performance da bateria Surdo Um.

Escola: Vila Isabel
Enredo: Você semba lá... Que eu sambo cá! O canto livre de Angola
Trecho: Nesse cortejo (a herança verdadeira) / A nossa Vila (agradece com carinho) / Viva o povo de Angola e o negro rei Martinho
Análise: É o samba do ano. A homenagem a Angola é permeada por uma sensibilidade ímpar na descrição do enredo, com uma melodia muito bem conduzida pelo intérprete Tinga (e olha que eu sinceramente acho que essa letra pedia por alguém de estilo mais "suingado", tipo o Preto Jóia, mas Tinga saiu-se muito bem). Se por um lado penso que o samba careça de um refrão forte, por outro reconheço que em todos os ensaios que acompanhei da agremiação - e acredite, não foram poucos! - o canto da comunidade foi uma coisa contagiante. A Vila vem que vem em 2012, a Sapucaí vai ficar pequena para receber Angola.

Escola: Salgueiro
Enredo: Cordel Branco e Encarnado”
Trecho: Salgueiro, teus trovadores são poetas da canção / Traz sua côrte, é dia de coroação / Não se "avexe" não
Análise: Excelente samba. Os versos passam a temática de uma forma leve e poética, brincando com alguns vícios de linguagem típicos do nordeste brasileiro e contando com uma melodia inflamada, sobretudo nos dois refrões (seguramente, os dois refrões deste samba estão entre os mais fortes do ano). O Salgueiro tem todos os ingredientes para fazer uma apresentação memorável - o samba interpretado por Quinho já cumpriu o seu papel, e no dia do desfile oficial seremos agraciados com o bom gosto de Renato Lage.

Escola: Imperatriz
Enredo: Jorge, Amado Jorge”
Trecho: Ao mestre escritor, um canto de amor / Jorge Amado, saravá!
Análise: É sempre bom ouvir um samba na voz de Dominguinhos do Estácio, e esse da Imperatriz Leopoldinense não é diferente. Uma melodia que segue uma linha de referência e que parece muito bem amarrada do primeiro ao último verso. Versos esses que são relativamente curtos, ao meu ver curtos até demais, economizando na capacidade de passar informação sobre o enredo. Ainda mais por se tratar de uma escola que tem Max Lopes como carnavalesco, fica a sensação de que a agremiação vai apresentar muito mais do que o samba se propõe a defender.

Escola: Mocidade
Enredo: “Por Ti, Portinari, Rompendo a Tela, a Realidade”
Trecho: Quero te ver qual menino feliz / Planta a semente do sonho em verde matiz
Análise: Vejo este samba como um dos melhores do ano. Verso a verso, percebe-se que a vida e a obra de Cândido Portinari são narradas de uma forma que consegue a proeza de ser didática e poética simultaneamente. Havia ouvido a obra na interpretação do ótimo Wander Pires e digo com todas as letras que a voz de Luizinho Andanças caiu como uma luva nesse samba, dando um aspecto de algo clássico, como de certo modo o enredo sugere. Quem de alguma forma tiver alguma familiaridade com a obra de Portinari, certamente irá se emocionar ao ouvir a Mocidade Independente de Padre Miguel. Falo por experiência própria.

Escola: Porto da Pedra
Enredo: “Da Seiva Materna ao Equilíbrio da Vida”
Trecho: Vem no ritmo do Tigre de São Gonçalo / Alimenta seu povo apaixonado
Análise: De longe, o pior samba do ano. Patrocinado por uma empresa que maximiza seus lucros vendendo laticínios, a Porto da Pedra se prestou a fazer um enredo sob essa temática. Não que necessariamente levasse a um fiasco, mas a julgar pela composição da escola, estamos falando de uma forte candidata ao rebaixamento. Foi até difícil escolher um trecho do samba para figurar nessa postagem, restando saber se a grana injetada nessa dita "seiva materna" poderá salvar o tigre do Grupo de Acesso em 2013. Onde é que o Wander Pires foi se meter...

Escola: São Clemente
Enredo: “Uma Aventura Musical na Sapucaí”
Trecho: Se o samba empolgou, virou carnaval / Nossa aventura musical
Análise: Pode não ser a mais bonita, pode não ser a de melhor narrativa, pode não ser nada, mas o desenho do samba-enredo da São Clemente é de uma originalidade exaltável, principalmente em meio a tanto "lugar-comum" que vemos composições à fora. Nesse caso, diferentemente de quando falei da Imperatriz, considero que os versos curtos e diretos são altamente funcionais, dando coesão a uma obra que ficou livre, leve e solta. Poderá não ser o melhor desfile, o mais bonito, mas a São Clemente deverá levantar a Sapucaí com a sua simpática proposta de carnaval. Já conquistou meu coração.

Escola: Grande Rio
Enredo: “Eu Acredito em Você! E Você?”
Trecho: E abro o meu coração, cantando a minha emoção / Superação é o carnaval da Grande Rio
Análise: Melhor escola para fechar o carnaval 2012 do que a Grande Rio, não há. Depois de tudo que a agremiação caxiense passou em 2011, o desenvolvimento de um enredo falando de superação foi algo para entrar na história dos desfiles. Sem entrar no mérito da parte estética (que por sinal está em ótimas mãos nos cuidados de Cahê Rodrigues), a Tricolor da Baixada traz um samba gostoso de se cantar, com versos simples, de fácil entendimento. Somando esses ítens ao forte apelo do enredo - que tem tudo a ver com o passado recente da escola - e com a voz inigualável de Wantuir, fica a promessa de um desfile pra lá de especial na Sapucaí.

Escola: Portela
Enredo: “E o Povo Cantando na Rua é Feito Uma Reza, Um Ritual...
Trecho: Rola o toque de Olodum... lá na Ribeira / A Bahia me chamou
Análise: É o melhor samba da Portela nos últimos tempos. A correta interpretação de Gilsinho fortalece uma composição que já nasceu com ares de épica, onde cada verso parece encaixado naquele que o sucede e o andamento melódico segue uma rara beleza. É difícil mensurar o que será o desfile portelense, até porque a agremiação vem encontrando dificuldades de fazer uma apresentação à altura de sua tradição. Mas, sem querer bancar o vidente de plantão, boto fé que este samba será cantado em muitos outros carnaváis.

Escola: União da Ilha
Enredo: “De Londres ao Rio: Era Uma Vez... Uma Ilha”
Trecho: Vou botar molho inglês na feijoada / Misturar chá com cachaça
Análise: Costumo dizer que é perigoso fazer um enredo que enfoque eventos esportivos. No carnaval carioca, esse tipo de temática não costuma render bons frutos. Mas, a União da Ilha traz um samba interessante, diria até inteligente. Os versos denotam que há um trabalho de pesquisa sério feito pela Tricolor Insulana, e a voz de Ito Melodia é marcante na agremiação. Para o molho não azedar e o chá não esfriar, a Ilha tem o ótimo Alex de Souza para conduzir a parte estética. Diria que estamos diante de uma forte candidata a contrariar aquele cenário negativo de enredos dessa natureza. Aliás, tudo leva a crer que as Olimpíadas não serão necessariamente o fato principal no carnaval da escola - o que acho melhor para Londres, para o Rio e para o desfile da Ilha. Deve vir algo bacana por aí.

Escola: Renascer de Jacarepaguá
Enredo: Romero Britto: O Artista da Alegria Dá o Tom da Folia”
Trecho: Há tantos meninos assim / Querendo um sonho / Na liberdade das cores sem fim
Análise: Está aí um samba simpático e funcional. Creio que muitos não conheçam o artista Romero Britto, algo que aumenta a validade de torná-lo enredo - e isso é ponto positivo para a escola. Outro aspecto que vale exaltar é a qualidade das rimas. Sim, a qualidade. Os últimos cinco versos da estrofe que antecede o refrão principal configuram uma das passagens mais bonitas de todas as composições do Grupo Especial. Destacam-se também os três versos que antecedem o outro refrão, quando a letra coloca "o inverso" e, pouco depois, "universo", fazendo um desenho melódico pra lá de interessante. É difícil a missão da Renascer de Jacarepaguá, recém-promovida, se manter no Grupo Especial num ano onde duas são rebaixadas. Mas sinto que a escola saberá deixar o seu recado.

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