sábado, 9 de fevereiro de 2013

Ótima Noite De Desfiles No Rio De Janeiro

A primeira noite de desfiles na Sapucaí no carnaval 2013 foi altamente positiva. Com essa história de inchar o novo Grupo de Acesso (agora chamado de Série A), ficou ensacarada uma diferença no nível de organização e investimento entre as apresentações de escolas menos badaladas e outras mais conhecidas.

Vou aqui fazer breves análises sobre as nove agremiações que passaram pelo sambódromo na noite de sexta-feira para sábado. Assisti todos os desfiles pela televisão, cuja emissora detentora dos direitos de transmissão só foi mostrar as duas primeiras escolas depois de concluída a passagem da última, dando preferência a um VT do que àquilo que acontece ao vivo, o que considero um desrespeito ao samba.

Unidos do Jacarezinho

Abriu o carnaval da Série A fluminense com uma homenagem ao eterno Jamelão, maior intérprete de todos os tempos. O desfile em si foi bastante simples, pecando no acabamento em algumas alegorias, mas mantendo um conjunto sem grandes oscilações. Não há como deixar de comentar o fato de o segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira ter assumido o posto de primeiro casal instantes antes de iniciar a apresentação: é que rolou um imprevisto de última hora (talvez de últimos minutos) com a roupa da primeira porta-bandeira, Raessa. Se você acha isso um absurdo, fique calmo, pois ainda vamos mostrar nesse tópico contratempos ainda mais bizarros. No mais, foi legal ver a última alegoria da escola trazendo uma escultura do Jamelão com um largo sorriso, em homenagem bem-vinda e que poderia - e deveria - ter sido prestada pela Mangueira. Então, obrigado à "Estação Primeira" do Jacarezinho pelo enredo.

Porto da Pedra

Fazendo uma viagem sobre o mundo dos calçados, o Tigre passeou do fútil a uma crítica social forte, passando pelo irreverente, num desfile de qualidade estética digna de uma escola acostumada ao Grupo Especial. O grande destaque na apresentação da escola de São Gonçalo foi a bateria Ritmo Feroz, comandada pelo competente Thiago Diogo. Ousada, cadenciada e intensa, a bateria foi um dos pontos altos de toda a noite de desfiles, pronta para arrebatar as quatro notas máximas, assim como conseguiram ano passado, apesar do rebaixamento. Muitas mulheres bonitas e pouco fantasiadas também deram uma levantada na performance da Porto da Pedra. Rose Barreto, por exemplo, foi uma que veio a frente do último carro alegórico e me deixou na dúvida: seria ela componente, tripé ou alegoria? Um espetáculo, isso com certeza. A escola, embora não tendo sido uma das minhas favoritas, tem chance de título.

Santa Cruz

Terceira escola a desfilar e primeira a ter sua transmissão ao vivo, a Acadêmicos de Santa Cruz trouxe um desfile colorido e com fantasias bem elaboradas. Houve problemas com a evolução devido às manobras de pelo menos dois carros no momento de entrar na avenida, mas a escola conseguiu, no geral, uma apresentação correta. Foi pouco para tentar disputar o título mas mais do que o suficiente para se manter no grupo. Cumpriu o seu papel, trazendo um desfile compacto e agradável de se assistir. Inclusive na parte sonora, pois o samba era bacana e contava com ninguém menos que o multicampeão Paulinho Mocidade no microfone.

Vila Santa Tereza

Para quem acredita naquela idéia de que os obstáculos aparecem para que futuramente possamos evoluir, então a Vila Santa Tereza deu um passo largo para a perfeição em anos vindouros. Foram muitos os contratempos que atingiram a agremiação, incluindo as fantasias da ala das passistas (as meninas vieram de calcinha e sutiã), da bateria (os ritmistas foram com trajes improvisados daqueles que vemos em blocos de carnaval bem xexelentos) e até a ala das baianas, que desfilou com apenas vinte e duas componentes, abaixo do mínimo exigido por regulamento. O chão da escola está de parabéns pela alegria genuína de desfilar nessas condições supracitadas. Destaque para a comissão de frente estilo afro, de coreografia ousada e com um visual simples e funcional.

Parque Curicica

Homenageando os noventa anos da Portela e reeditando o samba portelense de 1994, a União do Parque Curicica esteve bem na voz de Ronaldo Yllê e na bateria faceira de Lolo, mas o desfile não emplacou. A comissão de frente afro acaba nos levando a compará-la com a escola anterior, e a agremiação que a antecedeu pareceu-me superior nesse quesito. De toda forma, há que se dar os parabéns: a escola quase fechou as portas e somente definiu enredo três meses atrás. Exemplo de superação.

Estácio de Sá

Excelente. A Berço do Samba trouxe uma comissão de frente de arrepiar, um abre-alas imponente e um desfile de estética bem definida, com bastante luxo permeando alas e alegorias. Tudo isso num samba de refrão forte e com as bênçãos de uma bateria de pegada intensa. Foi um dos melhores carnavais assinados por Jack Vasconcelos que tenha assistido até hoje. A dúvida que fica é o quanto a correria e o décimo perdido pelo minuto excedente no cronômetro poderão impactar na busca da Estácio em retornar ao Grupo Especial. Subindo ou não, o fato é que a escola conseguiu um desfile à altura de suas tradições, numa bonita homenagem ao músico Rildo Hora.

Alegria da Zona Sul

Para mostrar toda sua alegria, a escola enfrentou incêndio no barracão e até uma enchente, sendo desafiada para conseguir trazer seu enredo para a Sapucaí. E não apenas trouxe como saiu-se bem homenageando o Cordão do Bola Preta, com uma simpática bateria vestida de Nêga Maluca e a ala das baianas mais bonita que passou pelo sambódromo nessa primeira noite - coloridonas sem perder a leveza, fugindo das fantasias brancas monocromáticas que predominaram entre as demais agremiações, as baianas da Alegria da Zona Sul foram o grande destaque da apresentação da escola.

Acadêmicos da Rocinha

Novamente com um enredo original, a Rocinha trouxe a alimentação como tema, numa abordagem criativa e irreverente por parte de Luiz Carlos Bruno. Uma pena que a temática tenha sido desenvolvida sem o teor crítico que merecia, banalizando a matança de animais para promover churrasquinhos de gato (comissão de frente), feijoada (em vários trechos do desfile), junk food (que teve uma alegoria inteirinha só para si) etc. Dado o talento inventivo do carnavalesco, diria que se ele fosse vegetariano poderíamos estar diante de um desfile para marcar época. Mas não foi o caso. Apesar dos pesares, foi maior barato ver componentes trajados de almôndegas pulando contentes num pratão de macarronada. Coisas do carnaval. Ah! Cabe aqui elogiar a bateria de Mestre Maurão, com um andamento muito legal e a quantidade recorde de 37 cuícas.

Viradouro

A Unidos do Viradouro fechou a primeira noite de desfiles com chave-de-ouro. Diria que foi uma apresentação arrebatadora por parte da escola carnavalizada por Max Lopes, homenageando o Salgueiro de maneira encantadora e emocionante. O samba-enredo é uma maravilha, disparado o melhor que ouvi até agora na Série A - se fosse no Grupo Especial, diria que só não é melhor que o da Vila Isabel, superando todos os demais. Davi do Pandeiro interpretou com maestria, trazendo uma melodia belíssima num samba sem refrão, mas que ecoou fortemente entre a passarela e as arquibancadas: houve um problema no som e, quando não se ouviam intérpretes, foi possível ouvir e se arrepiar com o canto forte das vozes humanas, sem microfones, a plenos pulmões. Mestre Pablo totalmente caracterizado, Carlinhos Coreógrafo espetacular, comissão de frente funcional e integrada ao primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, um abre-alas memorável, uma belíssima rainha de bateria e um carnaval onde Max mais uma vez mostrou porque é chamado de "Mago das Cores". Teve tudo isso e algo mais. A Viradouro está mais do que na disputa pelo título. Está de parabéns.
Homenageando a Acadêmicos do Salgueiro, a Unidos do Viradouro fechou a primeira noite de desfiles no Rio de Janeiro com uma apresentação sensacional. Para o blogueiro, uma forte concorrente ao título na Série A 2013.

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